A qualidade do solo é um dos fatores influenciadores na produtividade e na qualidade de uma lavoura — e não é para menos! O solo é muito mais do que um simples substrato: ele é o responsável também por levar água e nutrientes aos cultivos, reciclar a matéria orgânica, filtrar poluentes e manter pragas sob controle. Por isso, é natural que os produtores busquem saber mais sobre como podemos manter a qualidade do solo.
Um solo fértil, equilibrado e corretamente manejado faz toda a diferença nos resultados da safra. Para que ele possa ser considerado de boa qualidade, uma quantidade enorme de indicadores — físicos, químicos e biológicos — devem ser analisados, bem como a inter-relação e a interdependência deles.
Como avaliar a qualidade do solo na lavoura?
Para saber mais sobre como avaliar a qualidade do solo na sua lavoura e aplicar técnicas de manejo e conservação adequadas, não deixe de conferir as 4 dicas que listamos abaixo!
1. Considere os indicadores físicos
Os indicadores físicos da fertilidade do solo estão diretamente ligados à maneira como as partículas que o formam são arranjadas e distribuídas. Caso estejam muito compactadas, por exemplo, a porosidade do solo cai consideravelmente, o que acaba influenciando na densidade e na capacidade de retenção hídrica do substrato.
Assim, é imprescindível considerar os fatores físicos no momento de avaliar a qualidade do solo da sua lavoura. Confira abaixo os principais:
- porosidade;
- densidade;
- estabilidade de agregados;
- textura;
- encrostamento superficial;
- compactação;
- condutividade hidráulica;
- capacidade de armazenamento de água disponível.
Os fatores físicos, quando desequilibrados, afetam de maneira significativa a produtividade da lavoura, pois limitam o crescimento radicular e a emergência das plântulas.
Além disso, a capacidade de infiltração e o movimento de água entre os perfis do solo podem ser prejudicados, o que diminuiu a disponibilidade de água às culturas.
2. Aprenda um pouco de química
Se você deseja avaliar a qualidade do solo da sua propriedade com maestria, será necessário aprender um pouco de química, mesmo que não tenha sido sua disciplina preferida nos tempos de colégio. Os indicadores químicos são essenciais para entender como anda a fertilidade dos solos da lavoura.
As características químicas do solo influenciam diretamente nas relações dele com as culturas, bem como a qualidade e a quantidade de água e nutrientes disponíveis para as plantas e os demais organismos responsáveis pelo equilíbrio do ecossistema.
A mobilidade de contaminantes/poluentes e o poder tampão também são fatores de natureza química muito importantes e determinantes na qualidade dos substratos agrícolas.
Além disso, as características químicas do solo estão intrinsecamente ligadas aos aspectos físicos, afetados por elas de maneira direta — como a tendência à compactação e formação de crostas superficiais.
Alguns indicadores químicos de qualidade do solo costumam ser analisados. Veja:
- pH;
- salinidade;
- capacidade de troca de cátions (CTC);
- capacidade de suprimento de nutrientes às plantas;
- concentração de elementos potencialmente contaminantes (mercúrio, arsênico, demais metais pesados e elementos radioativos);
- concentração de micro e macronutrientes.
3. Conheça os bioindicadores
Como já mencionamos, o solo não é um substrato inerte. Estima-se que, em um grama, podem existir até 100 milhões de microrganismos das mais distintas espécies, que desempenham suas funções biológicas específicas em um delicado equilíbrio.
Assim, o solo pode ser considerado um ecossistema vivo. Como em todo ecossistema, as alterações na sua qualidade afetam diretamente as populações que coexistem ali.
É por isso que os chamados bioindicadores são tão importantes na hora de determinar a qualidade do solo. Eles são considerados uma maneira confiável de identificar possíveis alterações negativas no substrato em tempo hábil para revertê-las. Isso acontece porque os elementos biológicos reagem muito mais rapidamente a mudanças no manejo e nas técnicas de plantio do que os de natureza física e química.
Por exemplo: a medição da quantidade de ergosterol por grama de solo pode dar excelentes indicativos da sua saúde. O ergosterol é um produto de origem fúngica com papel fundamental na formação de agregados, bem como na manutenção de sua estabilidade.
Assim, caso a quantidade de ergosterol não seja suficiente, a sua lavoura poderá apresentar problemas.
Entre outros bioindicadores igualmente importantes para a análise da qualidade do solo, temos:
- quantidade de matéria orgânica;
- diversidade de espécies animais e microbiológicas;
- biomassa microbiana;
- nível de respiração;
- quantificação e qualificação de enzimas presentes;
- quantidade de minhocas e nematoides;
- velocidade de decomposição.
4. Leve ao laboratório
Nesse ponto você já deve estar ciente da grande quantidade de indicadores que devem ser levados em consideração na hora de determinar a qualidade do solo. Mais do que isso: é extremamente importante saber como cada um desses indicadores (físicos, químicos e biológicos) se relacionam entre si e influenciam uns aos outros.
Se a capacidade de retenção de água está baixa, por exemplo, isso vai afetar radicalmente o transporte de nutrientes às plantas, bem como a microbiota local, em especial os fungos. Isso significa que a qualidade do solo como um todo é abalada a partir do desequilíbrio de apenas um indicador, em uma reação em cadeia bastante prejudicial.
Como é possível avaliar, quantificar e interpretar tantos indicadores ao mesmo tempo? A melhor pedida, sem dúvidas, é coletar amostras de solo de suas propriedades e enviá-las a um laboratório especializado nesse tipo de análise.
Esses locais contam com uma ampla gama de equipamentos e máquinas exclusivamente criadas para examinar cada indicador de qualidade do solo com precisão e exatidão. Munido desses resultados, você poderá traçar estratégias de manejo que visem a restabelecer o equilíbrio e a saúde dos solos. O resultado? Produtividade em alta, economia em insumos e fertilidade no longo prazo.
A situação não é das melhores. E agora?
OK, você analisou precisamente todos os indicadores necessários para atestar a qualidade dos seus solos e o resultado não foi dos mais animadores. E agora? O que fazer?
Antes de sair comprando toneladas de insumos e fertilizantes, saiba que não é necessário gastar fortunas para que o solo da sua lavoura volte a ser fértil. Em muitos casos, adicionar adubação de maneira equivocada pode, inclusive, piorar a situação!
Na verdade, na maioria das vezes a alteração da forma de manejo é a peça-chave quando o objetivo é melhorar a qualidade do solo. Técnicas de plantio direto, rotação de culturas e adubação mais eficaz são excelentes exemplos de metodologias que tendem a melhorar a situação.
Como manter a qualidade do solo?
Preparo da área de plantio
Se você deseja saber como manter a qualidade do solo, entenda que o primeiro passo necessário é preparar a área de cultivo. Esse preparo começa com a escolha do local mais adequado — isso inclui atentar-se a fatores como luminosidade e disponibilidade de água para irrigação. A partir daí, você poderá preparar o terreno para aumentar as chances de sucesso na lavoura, levando em conta suas necessidades físicas, químicas e biológicas.
Existem diversas práticas recomendadas e que são capazes de corrigir o solo, aprimorar seus atributos e garantir que haja nele a presença dos nutrientes essenciais para um desenvolvimento saudável das plantas.
Plantio direto
O plantio direto é uma técnica de manejo que propõe cobrir o solo para fazer a manutenção dos seus nutrientes. Palha e restos vegetais de plantas são mantidos na terra, prevenindo a ocorrência de processos danosos como a erosão e a desertificação.
Nesse tipo de manejo, o solo só é manuseado no processo de plantio, quando o agricultor utiliza uma semeadora específica para abrir os sulcos e depositar os fertilizantes e as sementes. Após isso, não há mais nenhum tipo de manipulação no solo. O agricultor passa, então, a tomar ações para o Manejo Integrado de Pragas e de plantas daninhas. Dessa forma, a palha permanece íntegra antes e depois do cultivo.
As vantagens dessa técnica incluem:
- equilíbrio térmico do solo;
- elevação da matéria orgânica na terra;
- mais disponibilidade de nutrientes e água;
- controle de processos erosivos;
- aumento da produtividade;
- mais proteção contra contaminações;
- menos atividade do maquinário e, consequente, economia no consumo de combustível;
- menos liberação de carbono do solo para a atmosfera, que é um dos processos contribuintes para o efeito estufa.
Apesar das vantagens, é importante atentar-se a alguns cuidados necessários. Por exemplo: ter certo conhecimento técnico é essencial. Além disso, o controle de daninhas e a compactação do solo também precisam de um cuidado extra. Por isso, sempre conte com a orientação técnica de um especialista para evitar prejuízos.
Outra recomendação é que o agricultor foque em culturas que melhor se adaptem à sua região. O plantio direto geralmente adota espécies forrageiras, uma vez que suas raízes e a palha que fornecem também podem ser adotadas na produção de leite e carne.
Rotação de culturas
A monocultura pode gerar prejuízos à qualidade do solo. Ao longo do tempo, promove alterações como degradações químicas, físicas e biológicas. Com isso, a produtividade da lavoura fica comprometida, havendo a necessidade de utilizar outras espécies em sistema de rotação.
A rotação de culturas consiste na alternância de tempos em tempos de diferentes espécies vegetais em determinada área. A recomendação é utilizar plantas com sistemas radiculares diferentes, de modo que cada cultura deixe uma herança residual no solo para ser aproveitada pelo próximo plantio.
Entre as principais vantagens dessa técnica, destacamos:
- redução da incidência de pragas, uma vez que se quebra o ciclo de desenvolvimento dos patógenos;
- diversificação da renda por dispor de novas culturas;
- aumento de carbono e matéria orgânica no solo;
- redução do processo de erosão;
- redução do processo de compactação pela diversidade de sistemas radiculares;
- reciclagem de nutrientes no solo;
- aumento da fertilidade do solo;
- redução da emissão de gases que causam o efeito estufa.
Gessagem
Um estudo realizado em plantações de milho pela Universidade Federal de Goiás revelou que o incremento de gesso e cal na lavoura é capaz de aumentar a produtividade da cultura do milho em 9,3% e da soja em 11,3%. Isso ocorre porque o gesso modifica as propriedades químicas e biológicas do solo.
O principal objetivo da gessagem é aumentar a fertilidade do solo por meio da redução do Al+3 em profundidade. O gesso (CaSO4, ou sulfato de cálcio) reage com o alumínio, reduzindo sua toxidez para as plantas. Além dessa neutralização, o sulfato dá ao solo cálcio e enxofre, que atuam da seguinte forma.
Cálcio
Tem função na estrutura da planta, formando compostos que fazem parte de suas paredes celulares.
Enxofre
Fortalece a planta na defesa contra pragas e doenças, atuando no controle hormonal para a planta se desenvolver de forma saudável.
Calagem
Calagem é a aplicação de calcário no solo para controlar sua acidez, além de fornecer nutrientes como cálcio e magnésio. Ao contrário da gessagem, a calagem altera o pH do solo. É muito comum principalmente nas regiões de clima subtropical e tropical.
No Brasil, boa parte das terras cultiváveis tem pH baixo, além de altas concentrações de Al+3. A calagem aumenta o pH e reduz as concentrações de alumínio.
Visto que a reação do calcário é lenta no solo, é necessário realizar a calagem com uniformidade e pelo menos 3 meses antes das adubações.
Adubação de nutrientes especiais
A adubação é uma prática indispensável para a inserção de micro e macronutrientes importantes para o crescimento da planta. Entre eles:
- nitrogênio;
- fósforo;
- potássio;
- cálcio;
- magnésio;
- enxofre;
- boro;
- cloro;
- ferro;
- manganésio;
- zinco;
- cobre;
- molibdênio;
- níquel.
A correção mineral deve ser realizada com o suporte de um agrônomo, uma vez que cada lavoura terá suas necessidades específicas, e doses inadequadas também prejudicam a qualidade do solo.
Com testes e análises é possível chegar a um diagnóstico que informa as propriedades do solo e suas necessidades nutricionais. Dessa forma, é possível definir os tipos de adubação, correção e técnicas que devem ser adotados para a obtenção de resultados mais satisfatórios.
Minhocultura
Minhocultura pode ser considerada um tipo de adubação orgânica, pois utiliza minhocas para assegurar a presença de nutrientes no solo. A técnica pode ser aplicada de duas maneiras.
Túneis
As minhocas cavam caminhos dentro do solo e deixam esses espaços vazios, que arejam a terra e contribuem para o escoamento da água da chuva e da irrigação.
Húmus
As fezes deixadas pelas minhocas são formadas de detritos de plantas e animais, dando origem a uma matéria orgânica com nutrientes essenciais para a qualidade do solo.
A produção de húmus de minhoca resulta em um adubo orgânico rico em nutrientes, além de garantir um ótimo aprimoramento dos atributos físicos do solo.
Nesta notícia você entendeu melhor como podemos manter a qualidade do solo. O resultado da obtenção de um solo equilibrado por meio das práticas listadas aqui você poderá conferir na prática: mais produtividade e fertilidade, além de menos infestação por pragas!
Fonte: Jacto