Preservar e explorar a floresta nativa brasileira de forma sustentável, para que ela continue crescendo e produzindo, além de gerar renda para população que vive nessas regiões.
Para falar sobre o assunto foram convidados o diretor do Serviço Florestal Brasileiro do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Paulo Carneiro; e o diretor do Fórum Nacional das Atividades de Base Florestal (FNBF), Rafael Mason.
O Brasil tem quase 60% de todo o seu território coberto por florestas naturais e plantadas. São aproximadamente 500 milhões de hectares de florestas nativas e 10 milhões de hectares de áreas plantadas, de acordo com o boletim do Serviço Florestal Brasileiro (SFB) de 2018. Dados da Embrapa Territorial, também relativos ao ano passado, apontam que 66,3% do território nacional corresponde à área destinada a vegetação protegida e preservada.
Entende-se por manejo florestal sustentável a exploração da madeira de origem legal e certificada, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema e seguindo regras para se manter a floresta de pé. Existe o manejo sob concessão governamental e o privado. No caso da concessão de florestas públicas federais, cabe ao SFB, ligado ao Ministério da Agricultura, conceder a permissão da exploração da madeira de forma sustentável.
Hoje, há mais de um milhão de hectares de floresta nativa pública sob concessão florestal. E o Mapa tem a meta de ampliar em 20% a produção de madeira em áreas de concessão nos próximos quatro anos. Grande parte do norte brasileiro, onde se localiza a Floresta Amazônica, está sob responsabilidade do Serviço Florestal Brasileiro.
O manejo é uma alternativa de renda, por exemplo, para produtores rurais que precisam, por exigência do Código Florestal, manter um percentual de florestal nativa preservada. Na Amazônia, o índice chega a 80% do total de toda a área da propriedade. No Cerrado, é de 35%.
O que diz a lei
“Para fazer o manejo hoje, há um inventário florestal de cada espécie e, depois que é feito o levantamento, há uma análise feita pelos órgãos ambientais para depois ser liberado”, afirma Rafael Mason, do Fórum Nacional das Atividades de Base Florestal.
Segundo ele, as árvores para manejo são aquelas que estão no final do ciclo. Numa área de um hectare da Floresta Amazônica, o equivalente a um campo de futebol, existem cerca de 700 árvores com diâmetro acima de 10 cm. Apenas as que têm diâmetro acima de 50 cm podem ser colhidas no manejo sustentável. Isso significa que quase 90% das árvores de uma área sob manejo são mantidas. Após todo o processo de colheita, a área fica em repouso por 25 anos para regeneração da floresta e se preparando para o próximo ciclo de corte.
As árvores retiradas por meio do manejo sustentável devem ter o Documento de Origem Florestal (DOF), que constitui uma licença obrigatória para o transporte e armazenamento de produtos florestais de origem nativa. É um documento emitido eletronicamente, disponibilizado pelo Ibama, sem custo aos produtores e empresários.
Mason afirma que as áreas de florestas nativas conservadas por meio do manejo em Mato Grosso somam 3,7 milhões de hectares. “A atuação das indústrias produtoras e exportadoras de madeira está presente em todos os municípios. A nossa meta é chegar a 6 milhões de hectares em 2030”, disse.
O diretor do FNBF falou ainda sobre a importância de se aplicar a técnica de manejo para a economia local. “A gente consegue gerar cinco empregos por hectare nessa cadeia. É uma cadeia pujante, que tem condição de crescer ainda mais. A madeira representa a quarta economia no estado e geramos 90 mil empregos diretos e indiretos. Através do manejo florestal sustentável, damos uma resposta para o mundo, inclusive com relação ao aquecimento global”. Em média, cada hectare de floresta sob manejo sustentável pode gerar R$ 2.500, segundo ele.
O representante do Ministério da Agricultura destaca que o manejo é ambientalmente compatível com a preservação da floresta. “A gente tem áreas que estão sob manejo, que mantêm a biodiversidade, e hoje é possível produzir madeira sem prejudicar a floresta”, afirmou Paulo Carneiro.
Segundo ele, há ainda uma imagem negativa do Brasil no exterior sobre a exploração florestal com base no manejo que precisa ser trabalhada. “É um dos grandes desafios do setor e hoje temos empresas que têm certificados internacionais, que reconhecem a sustentabilidade e a responsabilidade social do manejo que elas fazem”, disse.
De acordo com os dois entrevistados, a contribuição do consumidor final é fundamental para combater a exploração da madeira ilegal e privilegiar o produto do manejo sustentável. “O consumidor precisa exigir a compra de uma madeira legal. O Brasil não exporta madeira de origem ilegal”, frisou Rafael Mason.
Fonte: Canal Rural